O clima de medo e tensão tem se acentuado nas últimas semanas no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Como mostrou a primeira reportagem do Bocão News sobre a violência na região, o crescente registro de execuções, raptos e torturas tem alterado e rotina dos moradores e comerciantes, personagens que sabem como ninguém os segredos para evitar embates com facções criminosas.
Esse é o caso de um vigilante que prefere manter-se no anonimato. Ele mora há mais de 40 anos no bairro de Paripe, precisamente na localidade conhecida como “Bate Coração”, considerada uma das mais perigosas e que abriga traficantes de uma facção, rival ao da vizinha Fazenda Coutos. Apenas uma pista, a Rua Almirante Mourão de Sá, delimita os dois pontos e é exatamente nessa faixa que o homem espera todos os dias o transporte para ir ao trabalho.
“Temos que saber onde pisamos e por isso mudei o horário de saída de casa. Falo com todos (traficantes) porque eles estão na minha realidade. Eles sabem quando saio e quando retorno, sabem da minha rotina e não posso contrariar. Assim vou levando a vida com a minha família há vários anos”, conta em uma breve conversa com a nossa reportagem.
Quem também percebe a movimentação intensa dos criminosos são os comerciantes. “Todos (bandidos) sabem onde nos encontrar. Não podemos falar muito e também não temos interesse”, disse um dono de mercadinho localizado em Paripe que deixou de baixar as portas do estabelecimento às 20h para às 19h.
Já em Fazenda Coutos, um vendedor revelou intensa movimentação no fim de linha do bairro. “Os policiais da Base Comunitária sempre passam com as viaturas, mas é algo que acontece duas, três vezes ao dia. Tem que haver abordagens, pois, todos (moradores e policiais) sabem quem são culpados e quem são inocentes”, garante.
Embora a violência esteja na porta de casa, não é difícil encontrar suburbano convicto de sua escolha. “Com ou sem bandidagem, daqui eu não saio”. A decisão é inegociável e parte de Antônio Carlos Duarte. Um aposentado de 67 anos, morador há 53 de Periperi. Basta ir até a Praça da Revolução, a mais movimentada do bairro, e lá encontrará o petroleiro em uma banca de jogo.
“Tenho condições financeiras de sair daqui (do Subúrbio), mas gosto de onde moro. Não vejo lugar mais tranquilo em Salvador, então prefiro ficar onde conheço todos e posso jogar o meu dominó”, conta o idoso que confessa estar assustado com as notícias de violência em evidência. “Nos últimos dias tenho percebido um clima pesado, mas sempre passa”, vislumbra.
O movimento de olheiros, usuários e traficantes acontece, muitas vezes, a luz do dia. Jovens utilizam motos para fazer a entrega da droga em bairros mais distantes, principalmente de classe média. “Eles (traficantes) nem se escondem mais. Ficam nas esquinas, sempre em grupos, e cada vez mais jovens. Temos crianças que já são usuárias, fazem ameaças e tocam terror”, conta uma moradora também de Fazenda Coutos.
Diante das denúncias, a próxima reportagem do Bocão News será sobre o trabalho ostensivo e investigativo feito por policiais militares e civis no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Fonte: Bocão.
Discussion about this post