Após anunciar a redução no volume de investimentos previstos para os próximos anos e a expectativa de vender parte dos ativos, a Petrobras anunciou ontem mais um passo em busca do equilíbrio financeiro. A estatal petroleira informou que sua diretoria executiva aprovou um plano de demissão voluntária.
O Plano de Incentivo ao Desligamento Voluntário anunciado ontem comporta a adesão de até 12 mil empregados, equivalente a 15% da força de trabalho na empresa. O processo representaria um custo para a companhia da ordem dos R$ 4,4 bilhões com as demissões, segundo comunicado ao mercado emitido pela empresa. Por outro lado, a expectativa é que a medida gere uma economia de R$ 33 bilhões entre 2016 e 2020, com o pagamento de salários e benefícios, entre outras despesas.
A petroleira afirmou que o objetivo é adequar a força de trabalho às necessidades do Plano de Negócios e Gestão, elevar a produtividade e gerar valor para a companhia.
Em meio ao cenário de baixa nos preços do petróleo no mercado internacional, a empresa tem buscado reduzir custos. Neste sentido, já tinha anunciado, na quarta-feira, uma redução de sete para seis no número de diretorias e mudanças no modelo de governança e gestão, que representam um corte de 43% nas funções gerenciais em áreas que não estão ligadas à operação.
De acordo com a estatal, a primeira edição do PIDV foi lançada em janeiro de 2014 e teve 6.254 desligamentos. Outros 1.055 empregados inscritos no PIDV 2014 têm previsão de saída até maio do ano que vem.
Na semana passada, a empresa anunciou que encerrou 2015 com um prejuízo de R$ 34,8 bilhões. Em 2014, o prejuízo foi de R$ 21,6 bilhões.
Incentivo para sair
O técnico de administração e controle João Silva trabalha na Petrobras há 29 anos e completou no ano passado o tempo necessário para se aposentar. Porém, nos planos do profissional, a ideia era só deixar a estatal no ano que vem.
Com o Plano de Demissão Voluntária, ele diz que vai antecipar a decisão. “Se eu não aderir este ano, saio no ano que vem e não recebo nada a mais”, acredita.
Segundo ele, a principal motivação para a decisão é financeira. Ele pretende transformar a grana extra em investimento. “É mais uma garantia para o futuro. A gente tem que guardar um dinheiro. Vou investir quase tudo”, afirma.
Para o coordenador do Sindicato dos Petroleiros na Bahia (Sindipetro), Deyvid Bacelar, o PDV deverá causar prejuízos à Petrobras em vez de trazer benefícios. “Os trabalhadores que ficarem serão sobrecarregados, sobretudo nas áreas operacionais, o que vai aumentar o número de acidentes de trabalho e também de horas extras”, acredita.
Ainda segundo ele, várias ações tramitam na Justiça contra a Petrobras por conta de outros planos de Demissões Voluntárias praticados no passado. “Esse voluntariado tem umas aspas muito grande. Temos problemas de pessoas que são compelidas a aderir ao plano por conta da situação de crise que a estatal se encontra. O trabalhador perde muitos benefícios com tudo isso”, completa o sindicalista.
A Petrobras pagará indenizações entre R$ 211.989 e R$ 706.633, de acordo com informações divulgadas no site da Revista Época, que obteve cópia de um comunicado interno emitido pela empresa.
Além disso, está previsto um adicional equivalente a até três vezes o salário-base. O valor será calculado com base no tempo de casa, a idade do trabalhador e o último salário base. As inscrições começam na próxima segunda-feira.
Contratados são demitidos em massa na Petrobras
Os cortes na Petrobras e o novo Plano de Negócios da companhia impactaram também a vida dos profissionais contratados e prestadores de serviços. Segundo estimativa do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro), de agosto de 2014 até fevereiro de 2016, cerca de 200 mil profissionais foram demitidos em todo o país.
“Antes, a estimativa era de que a cada um empregado próprio você tinha quatro terceirizados trabalhando em unidades da Petrobras. Hoje a relação é de dois empregados próprios para um contratado”, afirma o coordenador do Sindipetro, Deyvid Bacelar.
Ainda segundo ele, a suspensão de investimentos, os contratos rescindidos e revisados forçaram a demissão de trabalhadores que atuavam desde a área de obras até os que realizavam atividades administrativas. “Tudo isso chegou nas pessoas que não era concursadas mas atuavam na Petrobras por meio destes contratos e licitações”.
Demitida no final do ano passado, junto com outros 50 terceirizados que trabalhavam em uma das unidades da Petrobras no município de Camaçari, a assistente administrativa Júlia Marques estava na estatal há 13 anos. “Foi um choque. Não esperava, principalmente porque só tinha eu no meu setor fazendo o serviço. Estou só à base do seguro-desemprego”.
Sem conseguir ainda se recolocar no mercado de trabalho, Júlia afirma que o cenário de crise torna ainda mais difícil a busca por outro emprego. “O clima é tenso porque quem ficou lá continua apreensivo com a presença do nome na próxima lista de demissões. Está difícil, mas não posso desistir. Tenho uma filha pequena e preciso me manter”.
Programa é alternativa para melhorar a renda
Ainda que o Programa de Demissão Voluntária (PDV) comprometa a estabilidade no emprego, segundo a consultora de Carreira e Recursos Humanos, Margarida Silva, o PDV pode ser uma oportunidade de repensar a carreira principalmente para quem é empreendedor ou tem alta empregabilidade no mercado.
“O PDV vai dar um respaldo financeiro maior para garantir uma reserva financeira capaz de estruturar este novo momento na carreira”, ressalta a especialista.
É possivel, inclusive, ganhar até mais, aponta Margarida. Para ela, os profissionais que mais costumam se beneficiar do PDV são os iniciantes cobiçados pelo mercado, em áreas especializadas e aqueles que estão perto de se aposentar. “É o momento de fazer uma virada na vida e viver daquilo que gosta e ganhar mais também, seja com um negócio próprio ou prestando consultoria para a estatal com um ganho maior do que estava acostumado”. Com informações do Correio.
Discussion about this post