Dá pra dizer que Ronaldo Jacaré é um injustiçado pelo UFC. Aos 37 anos, o lutador capixaba já demonstrou por mais de uma vez que é merecedor de lutar pelo cinturão dos médios da organização. No entanto, sempre há uma desculpa ou alguém acaba furando a fila em sua frente.
Bicampeão mundial de jiu-jitsu, Jacaré estreou no MMA em 2003 e com derrota. De lá pra cá, emplacou um cartel de respeito, com 24 vitórias, quatro derrotas e uma luta sem resultado. O último triunfo foi no sábado, 11 de fevereiro, contra Tim Boetsch, no UFC 208, com uma finalização ainda no 1º round.
Como sempre, Jacaré pediu uma chance de enfrentar o inglês Michael Bisping, atual dono do cinturão. Enquanto a chance não chega, ele enfileira vítimas. Por telefone, o lutador conversou com o CORREIO, com exclusividade. Falou sobre seu momento atual e contou ter ótimas lembranças da capital baiana.
Como você está se sentindo após a luta com Boetsch? Mais confiante de que vai conseguir essa disputa pelo cinturão?
Ronaldo Jacaré: Bastante confiante, já que foi uma ótima vitória. Até porque eu estava me preparando pra lutar contra o Luke Rockhold, mas ele amarelou, como todo mundo sabe. Dá confiança depois de você fazer um grande trabalho, obter uma grande vitória. Consegui um bônus (de melhor performance no UFC 208), a gente fica bastante feliz e esperançoso que possa lutar pelo cinturão.
Você tem tido uma atitude diferente da de Demien Maia, um cara que também busca essa disputa por cinturão e prefere esperar e não lutar. Você já disse que prefere continuar lutando até a chance chegar. Por quê? Não é um risco?
RJ: Posso falar só por mim. Acredito que eu não vou perder pra ninguém. Até porque se eu não bater em alguém, pegar todo mundo, eu vou ter que esperar um pouco. Tenho que lutar, me manter ativo. Eu também fico reparando que todos que ficaram durante muito tempo inativos não tiveram uma boa volta, não voltaram bem. Minha intenção é lutar pelo cinturão e posso esperar a depender do tempo. Mas eu quero lutar sempre que eu puder.
Tem tempo que você já vem merecendo essa disputa de cinturão e o UFC não te dá essa chance. Como manter a motivação de treinar, de passar por um camp, e ficar longe da família?
RJ: Primeiramente, não tem nada que esses caras façam que diminua minha força de vontade. Eu tenho uma força de vontade que eles não sabem medir. Lógico que a gente fica chateado, mas isso não é nada. Eles têm que ver que os fãs pedem. Você mesmo disse. Já passou do tempo. Todos os fãs que vêm falar comigo pedem um title shot (disputa de cinturão). Então, isso prova que eu estou fazendo um grande trabalho, que os fãs gostam do meu trabalho e que eles querem me ver lutando pelo cinturão. Tô tranquilo em relação a eles me deixarem de molho, mas eu só posso falar a verdade. Já passou da hora, já me sacanearam, mas quanto mais eles me deixarem sem lutar, vai ser pior. Porque vou ficar mais motivado e mais treinado pra vencer qualquer um.
Deu tempo de ver o Anderson Silva lutar depois da sua luta com Boetsch? Conta como foi esse período de treinos com ele e depois saber dessa vitória dele contra Derek Brunson.
RJ: A gente treinou junto na X-GYM (academia no Rio de Janeiro), se encontrava todos os dias e chegamos a fazer até alguns sparrings juntos. É sempre bom ver um amigo seu vencer.
Como é sua relação com a Bahia e os lutadores baianos?
RJ: Meu irmão, sou fã do Minotauro, fãzão dele. E um dos campeonatos mais legais que eu participei na vida foi aí em Salvador, em 2004. Copa do Mundo de Jiu-jtsu. Está na memória de todos os baianos que gostam de jiu-jitsu, sobretudo dos meus fãs. Todo mundo sabe o que aconteceu. É uma lembrança maravilhosa, o ginásio estava lotado, lotado. Fui campeão mundial contra o (Fernando) Margarida na final.
Você tem origem no jiu-jitsu e passou depois para o MMA. Hoje em dia, jovens já surgem como lutadores de MMA, sem aprender as artes marciais separadas. Você acha que essa diferença possa trazer lutadores menos capacitados a improvisar no futuro?
RJ: Acredito que possam surgir pessoas mais capacitadas. O mundo está em evolução. Às vezes, a gente faz uma coisa achando que está certo e está errado. Então, a gente tem que aprender com todo mundo. Igual ao pessoal falando das novas guardas de jiu-jistu. É a evolução. Tem que quebrar essa coisa antiga mesmo.
Quais são seus próximos passos a partir de agora?
RJ: Já tô férias (risos). Estava há um tempão fazendo camp (originalmente, Jacaré lutaria em novembro e, geralmente, são três meses de treinamento). Agora vou viajar a trabalho, dar uma aulas de jiu-jitsu. Depois vou viajar com a família.
Deixe um recado pros leitores do CORREIO e o público baiano no geral.
RJ: A galera da Bahia é especial, mora no meu coração. Um dos maiores eventos que lutei, tenho ótimas lembranças, sou fã de Minotauro… Queria mandar um abraço pra todo mundo e dizer que podem torcer por mim que eu não vou decepcionar.
Fonte: Correio.
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