O artista plástico baiano, ícone da arte performática de Salvador, Jayme Figura morreu na tarde desde domingo (26), aos 64 anos.
Não há ainda informações sobre a causa do morte. Mas, de acordo com informações do também artista plástico Leonel Mattos, Jayme morreu às 13h após passar mal na madrugada de domingo. Há três dias, ele foi a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com dores de cabeça. Ele foi liberado, após os exames. A esposa, no entanto, notou que ele estava cambaleando.
“O médico disse que era uma questão neurológica. Eu cheguei a falar com um amigo meu médico para fazer uma videochamada, mas ele passou mal nessa madrugada e morreu”, disse Leonel.
Nos últimos quatro meses, Jayme estava trabalhando no ateliê de Leonel Mattos. Ele recebeu a encomenda de uma galeria com sedes em São Paulo e Nova York para a criação de 50 quadros para uma exposição.
“Ele estava muito feliz, vendendo suas obras. Estava trabalhando bem, porque a gente se divertia muito, eu sou brincalhão e a gente sempre brincava trabalhando”, recordou o amigo.
Para Leonel Mattos, Jayme Figura era um pioneiro da arte performática da Bahia. “Ele era um ícone da Bahia. E começou a pintar com mais frequência de um tempo pra cá. Ele sempre se queixava, emocionalmente era uma pessoa que sempre se sentiu um pouco cansado. Tomava os remédios controlados. Mas, estava bem e veio essa surpresa”, lamentou.
O artista plástico Paulo Darzé também lamentou a morte de Jayme Figura. “É uma enorme perda para as o mundo das artes. Fygura foi um artista radical, a frente do tempo, um homem altamente revolucionário. Meu máximo respeito. Estamos muito tristes e abalados com a notícia”, disse.
Sua filha, Thais Darzé lembrou da relação próxima que tiveram com o artista. “Estou muito triste. Tinha uma relação muito forte com Jayme. Ele sempre me visitava e me chamava de Sua Rainha das Artes”, recordou.
Ainda não há informações sobre o velório e enterro do artista.
Um artista das ruas
Jayme Figura usava uma lucidez efusiva para defender sua arte performática e o valor da sua produção. O artista ultrapassava as aparições cidade afora para abraçar também esculturas de metais, pinturas, textos escritos e até bandas de rock. “Diziam: ‘Coitado, grande desenhista, ficou maluco, todo rasgado’. Comecei a usar armadura para me proteger, porque jogavam pedra em mim. Mas nunca fui louco. É uma forma de mostrar minha revolta”, disse em entrevista ao Correio em 2017.
O personagem ganhou as ruas de Salvador em 1992, quando o plano Collor desestruturou a vida do então desenhista publicitário que se identificava com o movimento punk. “Eu ganhava 15 salários, minha esposa estava grávida do segundo filho. Tinha carro, três cadernetas de poupança, uísque embaixo do braço”, lembrou na época.
Apesar de ser conhecido andarilho de Salvador, Fygura gostavs mesmo de produzir longe das ruas, em seu ateliê, no Carmo, que batizou de Sarcófago.
Há quatro anos foi atropelado na Avenida Carlos Gomes, quando comemorava, em 2016, a reeleição do atual prefeito ACM Neto (DEM) – de quem se dizia um profundo admirador. As sequelas imediatas foram costelas fraturadas, jamais tratadas corretamente, que o impediam de continuar carregando a armadura com o mesmo vigor.
Em 2020, durante a pandemia, passou por dificuldades financeiras, que revelou na coluna Baianidades.
Informações Correio