Se chover novamente, não dá para garantir que a casa de dona Raimunda Alexandrina, 52 anos, fique de pé na comunidade do Barro Branco, na Avenida San Martin, onde 11 pessoas morreram após deslizamentos na segunda-feira. Da Rua Guadalajara, ela vê imóveis na ponta da encosta — segundo a Defesa Civil de Salvador (Codesal), pelo menos dez com risco de desabar. Por isso, para a prefeitura, a prioridade é retirar os moradores do entorno, já que ainda há previsão de chuva forte para os próximos dias.
Não foi à toa que o próprio prefeito ACM Neto esteve no local, na manhã de ontem, para fazer um pedido aos moradores: “O apelo maior que fazemos à população é que não corra riscos. Aceitem sair de suas casas e venham para a assistência da prefeitura. Temos aluguel social e, para quem preferir, abrigos, como um hotel que foi alugado aqui na San Martin”, pediu Neto.
Foi a primeira visita do prefeito ao local, desde que sobrevoou as áreas afetadas pela chuva na terça-feira, acompanhado do governador Rui Costa e do ministro da Integração, Gilberto Occhi. De acordo com o prefeito, toda a área do Barro Branco passará por um processo de reurbanização — o plano de trabalho da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Habitação e Defesa Civil (Sindec) deve ficar pronto em 30 dias. “Vamos fazer toda a drenagem, asfaltamento, passeios. Uma parte vai ser com recursos do município, outra parte com recursos do governo federal”.
Além disso, ações como contenção de encostas, manutenção, limpeza de canais, micro e macrodrenagens serão “permanentes”. Segundo Neto, apenas no ano passado, foram investidos R$ 500 milhões em infraestrutura. Ainda segundo o prefeito, a prefeitura já tinha encaminhado um pedido de apoio financeiro ao governo federal para a construção de 72 encostas na cidade nos próximos dois anos — outras 32 já foram executadas ou estão em fase de finalização. Ainda há outros 55 projetos de encosta que já foram aprovados e devem ser iniciados este ano.
Mas, enquanto as intervenções na encosta do Barro Branco não começam, dona Raimunda se prepara para sair. Como não pode ficar em casa, não tem onde dormir, pegar roupas ou cozinhar. A blusa rosa, o lenço na cabeça e a calça que vestia eram doações.
Um engenheiro da Codesal avaliou o imóvel onde ela mora e dona Raimunda ficou mais tranquila: foi cadastrada para receber o auxílio de R$ 300, que será concedido pela prefeitura por um período que pode ir de três a seis meses.
Proteção
A poucos metros dali, a estudante de Enfermagem Amanda da Silva, 21, passa pela mesma situação. “Pegamos a cesta básica e, agora, o aluguel. Vai ser a proteção da gente, porque não dá para ficar aqui não, moça. Se aquele prédio cinza cair, está todo mundo ferrado”, disse, referindo-se a uma construção de dois andares, no alto da encosta.
Segundo o secretário municipal de Manutenção, Marcílio Bastos, esse edifício será demolido em breve. Ainda de acordo com ele, apesar de a Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) estar fazendo a limpeza do local desde segunda-feira, o material que resta oferece riscos.
O Exército também foi deslocado para o Barro Branco a fim de auxiliar na remoção dos moradores. Além disso, um galpão nas Sete Portas foi alugado pela prefeitura para guardar os bens dos moradores. Ontem, caminhões do Exército chegaram no início da tarde e retiraram os pertences da doméstica Ana Lúcia de Oliveira, 37, cujo imóvel corre risco de desabar.
No caminhão do Exército foram fogão, geladeira, guarda-roupa, mas algumas coisas ela teve que deixar para trás. “Não vou poder levar tudo, os armários e outras coisas pequenas vão ter que ficar aqui”, contou.
Um outro caminhão do Exército levou donativos para a comunidade. A previsão é de que eles voltem na manhã de hoje para levar os móveis dos desabrigados até o galpão nas Sete Portas.
Fonte: Correio.
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