O ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, afirmou, em audiência, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a empresa a ganhar um contrato junto ao governo venezuelano, quando Hugo Chávez era presidente (1999-2013). Segundo Azevedo, um funcionário da empresa procurou Lula a respeito do contrato. Com a intervenção de Lula, a Andrade Gutierrez venceu o concorrente italiano que disputava com ela. “Lula não fez qualquer exigência”, diz Azevedo, explicando que não pagou pela ajuda.
Um ano depois do ocorrido, segundo Azevedo, a empresa teria sido procurada pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Vaccari teria exigido que 1% do valor total do contrato “referente à parte do Brasil” fosse repassado em forma de doação eleitoral ao partido. Azevedo não soube dizer quando a conversa aconteceu e afirmou que soube do acordo “a posteriori”, ou seja, ele não teria se envolvido diretamente.
O ex-presidente da empreiteira foi um dos três ex-executivos da Andrade Gutierrez que depuseram nesta sexta-feira (15) ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal, do Rio, dentro das investigações que desdobraram da Operação Lava Jato, no setor elétrico – o chamado Eletrolão. Ele presidia o grupo.
Cumprindo prisão domiciliar desde que assinou a delação premiada, Azevedo afirmou ter ocorrido um pedido à AG para que fossem feitas doações “dentro da sistemática que o Partido dos Trabalhadores estava querendo implementar”.
Segundo o ex-executivo, em reunião em São Paulo, em 2008, com a presença do então presidente do PT, Ricardo Berzoini, e o tesoureiro, Paulo Ferreira, além de João Vaccari, foi proposto por Berzoini que a empreiteira pagasse 1% dos valores dos projetos de que participasse, no futuro e no passado.
Ao discutir no grupo AG a proposta, decidiu-se que seriam pagas propinas para contratos dali para a frente. Os valores eram, segundo Azevedo, sempre repassado ao partido na forma de “doação” partidária, em vários pagamentos, sem regularidade, em anos eleitorais e não eleitorais.
Azevedo confirmou, como já dissera na delação, que o consórcio de empresas contratadas para construir a usina de Belo Monte, em 2009, pelo grupo vencedor do leilão, pagou “cento e tantos milhões de reais”, dos quais R$ 20 milhões teriam saído dos cofres da Andrade Gutierrez, proporcional a sua participação no grupo, de liderança. O delator disse que, no total, a AG pagou R$ 40 milhões em propinas na forma de doação eleitoral.
Perguntado pelo juiz se outros partidos recebiam doação, Azevedo disse “sim, mas não havia vínculo com projetos”.
Segundo Azevedo, a Andrade Gutierrez costumava atrasar pagamentos, o que levava Vaccari a cobrar pessoalmente o repasse, na sede da empresa. Não havia, segundo ele, regularidade nas cobranças. Azevedo disse que fazia os pagamentos para que a empresa mantivesse participação de mercado nos projetos públicos.
Outro ex-executivo da AG que havia feito delação e também depôs à Justiça nesta sexta, Flavio Barra confirmou que foram feitos pagamentos de propina na construção da usina nuclear de Angra 3. Ele detalhou desembolsos feitos ao então presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro, que determinou que os repasses fossem feitos por meio da remuneração de contratos de serviços, fictícios ou superfaturados, para empresas por ele indicadas. Pinheiro cumpre prisão domiciliar.
O terceiro ex-executivo da AG a depor, Gustavo Botelho, detalhou pagamentos a funcionários da Eletronuclear, em dinheiro vivo, relacionados a Angra 3. Ele disse não saber quais vantagens tais empregados prometeram, mas que “herdou os contratos” e que optou por pagar sem questionar, alegando temer represálias.
No início e no fim da audiência, advogados de defesa de Othon e de outros denunciados reclamaram não terem tido acesso ao conteúdo da delação, que só chegou hoje ao Rio de Janeiro, de acordo com Bretas. O juiz decidiu manter a audiência mesmo assim, apesar dos protestos. Com informações do Época.
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