São 4 km de pura tensão. Quem opta por trafegar pelas vias que fazem o desvio do pedágio da Estrada do Coco, de qualquer forma, pode pagar o preço por acessar a região da Cascalheira, em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador. Cientes que os veículos precisam transitar em baixa velocidade, por causa das vias estreitas, repletas de curvas e com quebra-molas, criminosos, em alguns casos com fuzis, rendem motoristas e até pedestres. Em 16 dias, pelo menos três episódios foram registrados no mês de outubro, entre eles a tentativa de assalto contra um policial militar, que teve o veículo crivado de balas.
“A situação aqui está complicada. Toda hora a gente fica sabendo que alguém foi cercado por eles (ladrões). Chegam sempre de carro ou moto e param quem quer que seja e levam tudo, veículo, celular. Sabem que o fluxo é grande aqui porque as pessoas não querem pagar o pedágio. É um problema antigo”, conta um morador da região. “No passado, chegam de revólver. Agora? É pistola, submetralhadora, fuzil, o que tiver”, diz ele.
A Estrada da Cascalheira é a BA-531, que possui 12,7 km de extensão e é a principal ligação entre a sede e a orla do município. Em suas extremidades estão os trechos de assaltos frequentes: as ruas Vagem Grande e Nossa Senhora Aparecida, que fazem também parte da região conhecida como Cascalheira – nome dado a área do entorno da rodovia. Por dia, em finais de semana com feriado, como este último, mais de 30 mil veículos circulam pela Estrada do Coco.
O que acontece? Os motoristas que não querem passar pela praça de pedágio, localizada no km 14,5, sentido Estrada do Coco/Lauro de Freitas, acessam a Rua Vagem Grande, que tem 2 km de extensão e que fica logo após um último retorno, seguem uns 300 metros sentido a sede de Camaçari e depois entram à esquerda na Rua Nossa Senhora Aparecida, por mais 2 km para saírem depois da praça de pedágio da Estrada do Coco.
E foi realizando esse trajeto que um tenente da Companhia Independente de Policiamento Especializado – Polo Industrial (Cipe-Polo) da Polícia Militar foi vítima de uma tentativa de assalto no dia 24 de outubro. “Era o dia de folga dele. Na hora, a mãe estava com ele no carro”, conta um policial, colega do tenente. Segundo ele, o tenente foi surpreendido por três homens que fizeram o ataque quando ele reduziu para passar por um quebra-molas já no final da Rua Nossa Senhora Aparecida, também chamada de Rua das Palmeiras.
“Quando percebeu a aproximação, ele sacou a arma e os caras atiraram na direção dele. Na troca de tiros, ele conseguiu se livrar dos disparos, mas o carro dele foi atingindo quatro vezes no pará-brisa. A mãe dele estava no banco de trás e não se feriu”, relata a fonte. Após a tentativa frustrada, os assaltantes fugiram.
Na manhã do dia 9 do mesmo mês, câmeras fixadas em um carro flagraram o momento exato em que um outro veículo foi assaltado também na Rua Nossa Senhora Aparecida. Na imagem impactante, que viralizou nas redes sociais, três homens com os rostos cobertos e armados descem de uma picape e interceptam uma Fiat Toro. Eles chegam a apontar as armas para o motorista que fazia a registro logo atrás, mas o motorista escapa de ré e em seguida avisa aos outros condutores.
“Aqui é uma região de muitos sítios e as poucas casas que têm ficam distantes uma da outra. Ou seja, se alguém procurar ajuda, não vai encontrar. Quando ainda estava aqui, a Ford (que encerrou suas atividades em 2021) teve que contratar uma empresa de segurança privada para escoltar os ônibus, que eram assaltados quase sempre, quando pegavam ou traziam os funcionários que moravam aqui”, afirma um morador.
Já no dia 8, criminosos foram flagrados assaltando uma mulher de manhã na Rua Vagem Grande. Na imagem, é possível ver toda a ocorrência. A vítima caminha segurando a bolsa e uma sacola, quando dois motoqueiros passam por ela – momento em que eles fazem o contato visual, para certificar que ela está sozinha. Em seguida os criminosos retornam e a cercam. Um deles anuncia o assalto e a mulher entrega algo, que parece ser um celular. A dupla vai embora logo depois.