Depois da votação da última semana na Câmara dos Deputados, em que o Democratas aprovou o “arrocho” fiscal da presidente Dilma Rousseff (PT), o jornalista Mário Sabino, ex-redator-chefe de Veja, classificou o DEM de “PSDB sem vergonha”. Por um motivo simples, na análise do jornalista: o PSDB ainda tem vergonha de sua indefinição e não busca argumentos para justificar o injustificável. Para o dia da sabatina de Luis Edson Facchin, indicado de Dilma ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira, por exemplo, os senadores tucanos decidiram se arrumar para uma viagem conjunta a Nova York, onde o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fará jus a mais uma homenagem por seus méritos intelectuais inquestionáveis.
É uma forma de ajudar Dilma ou o novo ministro e fazer vistas grossas ao risco que significa colocar no Supremo um magistrado manifestamente “com lado”, como disse, de si próprio, Facchin, num ato de campanha da presidente. Voltando ao DEM, o partido promoveu uma inflexão surpreendente na última semana, ao ajudar o governo do PT, mais do que os parlamentares do próprio partido, a votar uma parte do pacote de maldades da presidente contra o trabalhador que tanto ela quanto os petistas dizem defender. O impacto foi ainda mais sensível por envolver diretamente, mais do que sua principal liderança, a mais importante promessa de futuro da agremiação, o prefeito de Salvador, ACM Neto. O democrata, como se sabe, tem projetos de curto, médio e longo prazos.
O primeiro é reeleger-se prefeito da capital baiana, o segundo, conquistar o governo do Estado, e o terceiro, e mais desejado por ele, alçar vôo à Presidência da República. Exatamente por este motivo, sua cota de ajuda ao governo petista ou sua guinada governista foi encarada, em alguns aspectos, como um susto. Embora, ao se analisar os passos presentes do prefeito, o ato não possa parecer assim tão estranho. Como se sabe, Neto é um dos principais mentores da fusão do DEM com o PTB. O novo partido deverá conservar o nome da velha agremiação trabalhista criada pelo ex-presidente Getúlio Vargas, mas popularizada com o ex-governador carioca Leonel Brizola.
Apesar de ter fechado questão contra o pacote de Dilma, o PTB tem inspiração governista. Na cola de Neto, aguardando a formação da nova sigla e prontos para robustecê-la em Salvador já se encontram três vereadores, os ex-petistas Henrique Carballal e J. Carlos Filho, e Tiago Correia, hoje no PTN. O que a votação da semana passada não deixou claro até agora é a extensão do apoio do prefeito ao governo federal supostamente em troca de verbas para sua administração, as quais poderão até chegar, mas em proporção infinitamente inferior ao pleiteado, neste contesto de grave crise financeira que acomete o país e a gestão petista e embala o plano do governo de jogar sua conta salgada nas costas dos trabalhadores. Como Neto se portará a partir de agora em relação à presidente? Pior do que isso: o que fará em relação a um eventual pedido de impeachment?
São questões que emergem naturalmente dada a dimensão política atual do prefeito e as perspectivas que se abrem no futuro para ele, que vinha até agora sendo identificado como uma liderança marcadamente de oposição para a qual tem fluido um razoável contingente de expectativas. Terá Neto capitulado a um projeto de poder alternativo a tudo que está aí e se inclina cada vez mais ladeira abaixo, pressionado por uma agenda administrativa que o submete ao mais reles pragmatismo? Ou está vendo para além do que os que apostam politicamente nele conseguem no momento vislumbrar? As respostas não virão naturalmente em seu discurso recheado de desculpas, mas a partir da postura que adotar a partir de agora. Fonte: Política Livre.
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