“Tu conhece Anna Catarina?”, perguntava minha prima Heide Lima no início do mês, ao sugerir a divulgação neste CORREIO da programação do São João antecipado de Santa Bárbara, onde ela é secretária municipal de Administração e Finanças. A pergunta era uma resposta ao meu questionamento sobre qual seria a grande atração da festa esse ano, e ela admitiu não conhecer a estrela-mor da vez, como também reconheceu que foi o povo quem garantiu o show e o devido destaque. “Tem essa tal de Anna Catarina. Não conheço, mas pense que o povo gosta. Jesus! O prefeito autorizou”, disse, entre otimista e preocupada com o sucesso dos festejos.
No cartaz de apresentação, que acabou não passando no crivo da nossa editoria de cultura (portanto, sem divulgação), Anna Catarina aparecia com a maior cabeça e, portanto, como a grande aposta para fazer a festa ser topíssima.
Nesse embalo, é fácil presumir que acertaram em cheio. Mas o que me pareceu difícil de imaginar foi uma garota de 16 anos escolher compor e cantar arrocha, justamente quando o ritmo foi abandonado até por um de seus principais expoentes: a cantora Nara Serva de Deus.
Bom, quem é Nara Serva de Deus também dá pra supor, mas só explico daqui a pouco. Agora precisamos conhecer mais de perto o novo fenômeno da música na Bahia que, em menos de seis meses de carreira profissional, já tem meio mundo de fãs-clubes, além de vídeos que chegam a contar mais de 6 milhões de visualizações no YouTube.
O teste da popularidade em Santa Bárbara foi no último dia 16 e, pra não deixar dúvida sobre o êxito, há relatos de uma agoniação danada pra ver Anna Catarina ao vivo.
“A cidade lotou. Foi o dia mais cheio. E por se tratar de um domingo, entrou para a história como o dia mais cheio que já teve nos festejos juninos. Ficamos na torcida para que ela vá longe”, comentou minha prima, anteontem, quando resolvi mudar o tema da coluna dessa semana para lançar estes pequenos holofotes sobre “O Novo Hit do Brasil”, como a mocinha se autodenomina.
Convém crer numa menina que se chama Catarina. Olha como foi a chegada dela lá na terra de meu pai.
Em Conceição do Almeida, outra apresentação com o público afiado, cantando a plenos pulmões. Olha só…
Da dificuldade ao milagre
Mãe de Catarina e Miguel Ângelo, 19, Edianez Andrade, 39, conta que sempre enfrentou dificuldades para cuidar das crianças e ainda não acredita no que está acontecendo na vida da filha, que começou a despontar para o sucesso em dezembro, quando a situação financeira em casa tinha chegado ao limite.
“Eu sou mãe solteira. Quem criou meus dois filhos fui eu. Sempre fui mãe e pai. Já passamos muita dificuldade. Tem horas que a gente nem acredita no que tá acontecendo”, comenta Edianez, que se divorciou quando Anna Catarina tinha 2 aninhos.
Na época, ainda moravam em Aratuípe, cidade natal deles (e onde Catarina recebeu uma homenagem recente), mas depois se mudaram para Nazaré das Farinhas e, em seguida, para Santo Antônio de Jesus, após Miguel Ângelo passar no vestibular.
A principal fonte de renda, nos últimos anos, vinha da limpeza que fazia em casas de família. “Eu trabalhava como faxineira até o ano passado. A gente tava morando em Santo Antônio de Jesus. Meu filho passou na faculdade de Engenharia Civil e eu fui pra lá pra ficar com ele. Pra pagar as despesas, comecei a trabalhar como faxineira”, conta.
Em dezembro passado, Edianez e Anna Catarina voltaram para Nazaré, e foi quando a falta de grana deixou as coisas bem complicadas. Só que aí, milagrosamente, o jogo começou a virar.
“A gente tava assim numa situação bem difícil. Aí ela falou ‘olha, minha mãe’, eu postei um vídeo e ele tá estourado na internet. Aí pipocou. Desde então ela passou a ganhar 3 mil seguidores por dia, e continua da mesma forma. O vídeo foi postado em dezembro. É coisa de Deus mesmo”, avalia a mãe, comemorando os 530 mil seguidores apenas no Instagram.
Ela lembra que pouco antes do vídeo pré-profissionalização estourar, tinham alugado uma casinha bem humilde, por R$ 250, “paga com o que Anna recebia (R$ 280) da pensão do pai”.
“A gente não tinha nem uma semana em Nazaré e apareceu uma pessoa de Aracaju, querendo investir. No dia de Natal, a gente não tinha nem pra onde ir, e ele apareceu e comprou a passagem pra gente ir pra Aracaju e hoje estamos aqui”, conta ela, citando o empresário que viu o tal vídeo bombado e resolveu investir no talento de AC.
Entre outras gestões, produziu o clipe para a música ‘Eu Acreditei’ (versão que Anna Catarina fez de ‘Photograph’, de Ed Sheeran), e para a 100% autoral ‘Vida de Solteira’ (que tem um making-of bem engraçado após a música), entre outras gravações de estúdio.
Prodígio
Anna Catarina canta desde os 4 anos de idade. Vem de uma linhagem de músicos: são 49, ao todo, que sempre tocaram instrumentos de sopro em filarmônicas. “Ela é a única que veio na voz, na garganta”, separa Edianez, que cita a escolinha como o primeiro palco da danadinha.
Já mais grandinha, prometeu a um conhecido da família, candidato a vereador, a composição de um tema para sua campanha. “Depois que cantou a música dele, apareceram vários políticos atrás querendo que ela cantasse também. Aí ela passou a cobrar”, diz, sobre o bico de AC como compositora de jingles políticos, um exercício para as composições românticas que a ascenderiam mais tarde.
A ascensão, inclusive, poderia ter vindo alguns anos antes, mas a mãe avaliou não ser o momento certo (aposta ganha também). “Com 12 anos, a gente postou um vídeo e uma pessoa da Record viu e realizou o sonho dela de conhecer Ivete Sangalo, no programa de Geraldo Luís. Eu disse que não queria empresário nenhum naquele momento, porque ela era muito nova e não sabia o que queria”, relembra Edianez, sem traço de arrependimento.
Na época, uma das poucas concessões foi essa entrevista ao site Voz da Bahia.
Primeiro show
Depois que os vídeos do início deste ano começaram a bombar, os novíssimos fãs começaram a pedir para ver/ouvir o talento de Anna Catarina ao vivo. Era a hora de começar a fazer shows.
“Quando o empresário pegou ela já tava bem conhecida na internet. Muita gente perguntando (sobre shows). O primeiro foi em Camaçari. Ninguém acreditava e a casa lotou”, relata Edianez, ao lembrar que a filha já estava mais do que pronta para a missão.
“Ela nem fez um ensaio com banda. Já subiu no palco e tava preparada. A casa recebeu cerca de 2 mil pessoas. Teve gente que não conseguiu entrar”, comenta.
A emoção da primeira vez ao vivo é flagrante no vídeo abaixo, com choro, apoio, agradecimento e delírio do público.
“Todos os shows ela é a esperada. É de arrepiar. Se você ver minha filha entrando no palco, você se arrepia dos pés à cabeça”, propagandeia a mãezona, que reforça os demais predicados da filhota.
Única do arrocha
“Ela escolheu cantar arrocha, botou o N a mais no nome Ana e bolou (o slogan) ‘O Novo Hit do Brasil’. Na verdade, ela é a única mulher que faz arrocha, porque a única era Nara Costa, mas não faz mais. Hoje Catarina é a única”, diz, ao mencionar que a outra grande estrela do ritmo passou a cantar gospel e mudou até de nome. Agora se identifica como “ex-Nara Costa”.
“Ela (Catarina) sempre me dizia assim: ‘ô, mãe, eu vou ser famosa pra lhe ajudar, pra lhe tirar dessa vida’, e eu dizia ‘sua hora vai chegar’. Só que quando chegou, a gente não acreditou (risos). É incrível isso, né? Simplesmente eu digo que é a mão de Deus”, complementa Edianez, que passou a atuar nos bastidores.
“Eu também trabalho. Aprendi a lidar com isso. Fui obrigada. Agora ela só faz show mais final de semana. Ela estuda pela manhã numa escola de Salvador, fazendo o 9º ano”, diz. Lembra que também tem que se preocupar com o assédio sobre a garota.
“Onde ela chega é assim. Tem muitos fãs-clubes. Se botar aí no Instagram, você se perde. Hoje Catarina não pode ir daqui ali. Tem que ter alguém do lado dela, porque é muita gente. Pra sair do ônibus é multidão”, avalia Edianez, que concedeu a entrevista enquanto a filha descansava de um show em Ilhéus, anteontem.
Além do momento que vive, a nova morada, em Salvador, também é bem diferente da casinha humilde, de R$ 250, em Nazaré das Farinhas.
“Hoje eu moro num apartamento com ela, em Brotas. Ela hoje pode nos proporcionar uma vida melhor”, agradece, incluindo aí a quantidade de trabalho que está por vir.
Em junho, foram 22 shows, e julho já tem mais 20 marcados. “O ano todo já tá praticamente fechado. Os meses todos quase não têm mais vaga pra vender show”, explica a mainha orgulhosa, que agora quer levar seu bebê para voos mais altos, fora da Bahia. Preparem-se para o Novo Hit do Brasil. Nasce uma estrela.
Fonte: Correio
Discussion about this post