Uma das cidades mais rica da América Latina – São Francisco do Conde – foi notícia neste domingo (12) no Programa do Fantástico, da Rede Globo. Para tristeza dos Sanfranciscanos que não desfrutam da riqueza local, uma pesquisa encomenda pelo Fantástico junto à Universidade de São Paulo (USP), descobriu que nas cidades brasileiras com maior renda por habitante, o dinheiro dos impostos não se transforma em qualidade de vida para os munícipes. E o município de São Francisco do Conde foi destaque no programa.
A equipe do Fantástico visou a cidade do “Ouro Negro” e viram cenas impressionantes: moradores usando barro para construir uma casa para Atanael Gomes. A dele está caindo. “Meu sonho é eu ter uma casa de construção, onde eu possa botar minha família e não se preocupar com chuva, com vento”, conta o pescador.
Vejam um trecho da reportagem do Fantástico:
[…] O bairro não recebe água encanada. Em um pequeno lago, todos aproveitam para se limpar. Mesmo lugar usado pelos animais. O caminhão-pipa que a prefeitura manda não é suficiente. Por isso, é preciso acordar cedo.
“Eu acordei era três e meia. Seis e dez, quando ele chegou”, conta uma mulher.
Dona Maria Alice Machado Silva chegou tarde.
Fantástico: Já não tem água nenhuma?
Maria Alice: Não. É muita humilhação.
Maria da Paixão Moreira de Jesus usa o córrego para não gastar água boa. “Para lavar roupa, prato, tomar banho, tudo é aqui”, afirma.
80% da arrecadação de São Francisco do Conde vem da refinaria Landulfo Alves. Só dela, em 2014, saíram R$ 365 milhões. Ou seja, R$ 1 milhão, por dia, para um município de 38 mil habitantes.
Graças ao petróleo, o município tem quase R$ 13 mil por habitante, cinco vezes a média nacional. Só que mais da metade da população não tem rede de esgoto. E um quarto vive na miséria.
Nos últimos 10 anos, todos os ex-prefeitos foram indiciados por desvio de dinheiro público. “Eles não tinham o menor respeito com o dinheiro público”, afirma José Nogueira Elpídio, delegado de Polícia Federal.
Em um dos casos, em 2009, a prefeitura contratou uma empresa para construir uma escola. Mas a obra nunca foi feita. No terreno, cheio de lama, e que hoje serve de pasto para os cavalos, era para estar uma escola municipal. A prefeitura cercou o terreno, colocou uma placa com o prazo para conclusão da obra, mas retirou tudo e ninguém no bairro sabe o que aconteceu.
“Até hoje a gente espera e não tem nada”, conta a moradora Antônia Nunes da Conceição.
Fantástico: E foi pago qual valor a essa empresa?
Delegado: A quantia superior a R$ 7 milhões.
Em nota, a prefeitura diz que gastou cerca de R$ 3 milhões com parte da obra, mas o contrato com a empresa responsável foi encerrado, porque ela não cumpriu o cronograma. E que uma nova empresa já foi contratada para começar a construção. Sobre os outros problemas, admite que ainda não foram totalmente sanados. Mas que criou programas que ajudaram várias famílias a sair da situação habitacional de risco e emergência. E que está elaborando projetos na área de abastecimento de água e esgoto.
São Francisco do Conde tem uma receita mensal de R$ 40 milhões, entretanto, é uma incógnita o destino desses milhões. Os contratos perpetrados pela prefeitura sempre são com valores altíssimos e suspeitos, e os serviços oferecidos não fazem jus.
Enfim, o que o Fantástico mostrou é o que boa parte da imprensa baiana omite, contudo, blindando o prefeito e o povo sofrendo.
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