Não deixa de ser encantadora a capacidade que tem a máquina petista de fazer com que a versão — falsa! — se imponha aos fatos. Ao longo desta quinta, leitores, ouvintes, telespectadores e internautas foram bombardeados por uma “notícia” que se esqueceu de acontecer. Reproduzo abaixo alguns títulos publicados por aí, todos falsos, prestem atenção!
“Dilma repassa R$ 2,6 bilhões a São Paulo para obras contra falta de água”
“Governo de São Paulo receberá R$ 2,6 bilhões da União para obras contra seca”
“União vai repassar R$ 2,6 bilhões para obras em sistema de água em São Paulo”
Vamos ver. Começo pelo menos importante. Não existe obra “contra falta de água” ou “contra seca”. Faz-se uma obra é para abastecer com água, certo? Nesse particular, só o terceiro título listado acima está certo. De fato, trata-se de uma “obra em sistema de água em São Paulo”.
No mais, os três estão errados. Dilma não está “repassando” nada. São Paulo não está recebendo coisa nenhuma! Vamos lá.
São Paulo fechou uma PPP — uma parceria público-privada — para a construção do chamado Sistema Produtor São Lourenço. Esse contrato foi celebrado com um consórcio firmado pelas empreiteiras Andrade Gutierrez e Camargo Correa. Elas têm a obrigação de entregar a obra. Como irão financiá-la? Bem, isso é problema delas. No caso, essas empresas — e não o governo — fecharam um contrato de financiamento com a Caixa Econômica Federal.
Digam-me cá: se, em vez da CEF, esse contrato fosse com o Bradesco ou com o Itaú, qual seria o título? “Bradesco repassa R$ 2,6 bilhões para São Paulo”??? Ou: “Governo de SP receberá R$ 2,6 bilhões do Itaú para obras”???
Aí alguém pode perguntar: “Mas o que haveria de errado, Reinaldo, se o governo federal tivesse repassado R$ 2,6 bilhões para São Paulo?” Nada, ué! Não faria mais do que a obrigação, dado o quanto se arrecada de impostos federais no Estado. Ocorre que isso não é verdade, ora essa! Qual é o problema, afinal de contas, em dizer o que de fato aconteceu? No acordo feito com o governo de São Paulo, o consórcio anunciou que faria a obra com recursos próprios. Mas decidiu recorrer a financiamento e fez um acordo com a Caixa em dezembro de 2013.
O governo federal liberou, aí sim, R$ 500 milhões do Orçamento da União para a expansão da Linha 9 de trens da CPTM, no trecho Grajaú-Varginha. Nesse caso, é verdade, a União investe em São Paulo não mais do que alguns tostões, dada a riqueza gerada pelo Estado e pelos trabalhadores que usam os trens.
E isso tudo é apenas um fato.
Por Reinaldo Azevedo
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