Com a prisão decretada pela Justiça por suspeita de fraudar lotes da União destinados à reforma agrária, os dois irmãos do ministro da Agricultura, Neri Geller, se entregaram à Polícia Federal na noite desta quinta-feira (27) e foram encaminhados, por volta de 22h [23h no horário de Brasília] para o Centro de Custódia de Cuiabá, localizado nos fundos do Centro de Ressocialização da capital, antigo presídio do Carumbé. Milton e Odair Geller passaram a noite na prisão, como confirmou o diretor da unidade, Isaías Marques de Oliveira. Dos 52 mandados, haviam sido cumpridos 30 até o final da noite de ontem, segundo a Polícia Federal.
Alvos da operação ‘Terra Prometida’, deflagrada nesta quinta-feira, os irmãos Geller dividem uma cela com outros dois detentos, conforme a diretor. Durante a operação, policiais federais foram até as casas deles, em Nova Mutum e Lucas do Rio Verde, a 269 e 360 km da capital, porém, eles não estavam. Na casa de Odair Geller, em Lucas do Rio Verde, foram apreendidos documentos.
Eles e outras 50 pessoas tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça Federal de Diamantino, a 209 km da capital, após indícios de que teriam fraudado 15 áreas, sendo que cada uma possui 100 hectares, no município de Itanhangá, a 447 km da capital. Nessa cidade, a PF prendeu várias pessoas, entre elas o vice-prefeito da cidade, Rui Schenkel, dois vereadores e o filho de um produtor rural da região.
Os supostos integrantes da organização criminosa, entre eles servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), foram divididos em grupos pela Polícia Federal, como consta da decisão da Justiça Federal que mandou prendê-los. Odair e Milton fariam parte do grupo do primeiro núcleo da quadrilha, composto por empresários e fazendeiros. Porém, no ‘segundo escalão’. Não estão entre os líderes da organização.
Forma de atuação
Os outros três núcleos são formados por sindicalistas, servidores públicos do Incra, órgão ligado ao Ministério de Desenvolvimento Agrário, e colaboradores. Os fazendeiros e empresários se interessavam por alguns lotes e então aliciavam e pressionavam os assentados com proposta de compra, na maioria dos casos por valores muito abaixo do mercado.
Se aceitasse a proposta, o assentado assinava um termo de desistência endereçado ao Incra. Mas, caso discordasse da oferta de compra, era ameaçado de morte e expulso do lote à força. Na segunda situação, o termo de desistência era fraudado e a assinatura do posseiro, falsificada.
Com a documentação falsificada, o fazendeiro ia até o sindicato rural de Itanhangá e combinava um valor para regularizar a área. Apresentava um ‘laranja’ ou parente para ser beneficiado com a área. Na sequência, o sindicato encaminhava a carta de indicação e o termo de desistência ao Incra, onde um servidor simulava uma vistoria no lote. No entanto, o técnico raramente aparecia no assentamento e a vistoria nunca era realizada.
Mesmo sem ter feito a vistoria, o servidor assinava um relatório dando direito de posse ao ‘laranja’, pois o assentado anterior havia desistido em favor do novo posseiro.
Influência
As investigações apontam que a família Geller é poderosa, influente e rica, sendo que os mais influentes são Neri, Milton e Odair. Cita que Milton é ex-prefeito de Tapurah e Neri, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Em um dos casos, foi identificado que um dos ‘laranjas’ nunca tinha morado em Itanhangá e mesmo assim tinha posse de um dos 15 lotes que, indiretamente, pertenciam a Milton e a Odair. Em depoimento à PF, Milton Geller negou participação nos crimes investigados. Explicou que foi prefeito de Tapurah entre 2009 e 2012, e que nunca comprou lotes, nem indicou parentes para receber lotes. Odair também negou o crime e alegou que só possui dois lotes urbanos em Itanhangá. Fonte: G1.
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