“Ô pessoal, desculpa estar atrapalhando o silêncio da viagem de vocês”. Que morador de Salvador – e possivelmente de várias outras cidades brasileiras – nunca ouviu algo semelhante ao entrar em um ônibus coletivo? Com um dos focos do aumento da violência nos grandes centros sendo justificado pela ampliação do número de pessoas vitimadas pelo álcool e pelas drogas, dois deputados estaduais eleitos têm base programática relacionado ao combate ao vício: Pastor Sargento Isidório (PSC) e Manassés (PSB). Eles controlam duas instituições que adotam metodologias distintas para tratar viciados: a Instituição Manassés e a Fundação Dr. Jesus. O Bahia Notícias levantou alguns dados sobre essas instituições e o tratamento oferecidos por elas.
“O nosso médico é Jesus, e o tratamento, a palavra”, relatou Edilton Batista da Costa, diretor geral da unidade Manassés em Lauro de Freitas, única unidade na Bahia. A instituição tem atualmente 36 unidades espalhadas em todo o país com 50 pessoas abrigadas em cada uma. Para entrar na Manassés, o paciente deve pagar uma taxa única de matrícula de R$ 450. O processo de internamento exige que o indivíduo passe por uma entrevista e por uma triagem com um membro da família, e, principalmente, que reconheça a sua situação de vício e que queira se desintoxicar. O tratamento da Manassés é feito de uma forma peculiar e comunitária: a instituição não conta com uma equipe médica ou de psicólogos para auxiliar os pacientes, “nós mesmos, os que já não estão mais viciados, que ajudamos os outros”, segundo Batista. Um dos pontos mais importantes para a instituição é que os pacientes não permaneçam na cidade em que moravam: eles são transferidos para uma unidade da Manassés de outro estado. “Eles não ficam na própria cidade porque o nosso tratamento é semi-aberto, o paciente vai para a rua, faz a campanha no ônibus, como você já deve ter visto. Se ele continuar na mesma cidade, pode ficar exposto, já que era viciado em drogas”, explicou o diretor, apresentado como o responsável pela coordenação da instituição. Batista esclareceu que o ex-usuário de drogas, além da palavra de Deus, passa por uma terapia ocupacional – a venda de kit no ônibus, por exemplo, é uma forma de deixar a pessoa em atividade e arrecadar fundos para manter a instituição, que não recebe qualquer apoio governamental. Segundo Batista, o tratamento é complicado e há um índice elevado de abstinência. “Você pega dez pessoas para tratar e consegue apenas cinco, seis, às vezes só quatro”, comentou. De acordo com Batista, os pacientes que conseguem acabar com o vício podem continuar na instituição para dar continuidade ao trabalho.
Já a Fundação Dr. Jesus é um pouco diferente. Segundo Douglas Franco, coordenador geral da casa, há uma equipe multidisciplinar de profissionais disposta a atender os pacientes: oito psicólogos, dez assistentes sociais, três pedagogos, e três educadores físicos. Diferentemente da Manassés, a Dr. Jesus conta com auxílio de recursos do governo da Bahia e com a ajuda do fundador deputado Pastor Sargento Isidório, reeleito como o segundo mais votado. A fundação também não trabalha com medicamentos. “Não adianta usar droga em cima de outra droga. Ele não nasceu usando droga, então, caso eu use remédios vou drogar ele do mesmo jeito, trocar uma droga por outra. Tratamos com conversas, terapia. Caso ele chegue ao extremo, tenha uma crise de abstinência, o paciente é levado a uma unidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e o psiquiatra diz se ele vai precisar”, explicou Franco. A Dr. Jesus se apresenta como totalmente gratuita, não é cobrada taxa de entrada. “A única coisa que cobramos é a vontade de querer mudar de vida”, garantiu o coordenador. A Dr. Jesus não permite que os seus pacientes saiam da casa, o tratamento funciona de maneira fechada. Caso o indivíduo saia, ele só tem permissão para voltar após três meses, e como “repetente”, segundo Douglas Franco. “Cada um recebe um cartão. A pessoa fica lá, não sai ninguém. Se sair, não volta mais, só depois de três meses”, comentou.
De acordo com Conceição Pinto Souza, coordenadora técnica e assistente social da fundação, há um tratamento psicossocial e espiritual – o segundo coordenado pelo Pastor Sargento Isidório. Conceição explicou que a função do psicólogo é “ajudar o paciente a perceber que ele pode ser uma pessoa sem a droga. O profissional vai ajudá-lo a entender as suas questões e superar o vício”. E pode também, a depender de cada caso, haver um atendimento em grupo. Também são realizadas as “saídas terapêuticas”. “Saímos com esse grupo para o prazer: caminhadas, praia, zoológico, para que ele possa perceber que ele pode fazer tudo isso sem o uso da droga”, explicou Conceição. “A reinserção do usuário é muito difícil, e a maior dificuldade é no mercado de trabalho. A fundação tenta oferecer anualmente cursos de requalificação social: confeitaria e panificação, soda, corte e costura industrial, a partir de convênios com o governo do Estado da Bahia e da Secretaria de Justiça”, revela a coordenadora. A psicóloga da instituição, Maria Clara Gomes comentou que a maior dificuldade se dá com as crises de abstinência dos pacientes, principalmente dos viciados em álcool. “É um processo difícil trabalhar com uma pessoa que a doença está em seu desejo”, disse. Maria Clara também explicou que uma grande dificuldade para o paciente é a desestruturação familiar. De acordo com a psicóloga, a maioria das pessoas que chega à fundação tem problemas de família. Com atuação apenas na Bahia, a Fundação Dr. Jesus conta com três unidades, todas na cidade de Candeias: a Unidade da Sede, com 837 pessoas abrigadas, a Unidade do Sítio, 107 pessoas e o Hotel Fazenda, com 180 internados. A unidade da sede é também a casa do deputado Pastor Sargento Isidório, que mora na instituição e realiza cultos diariamente para o tratamento espiritual do paciente.
Fonte: Bahia Notícias.
Discussion about this post