Os petistas estão numa euforia espantosa. Nesta quinta-feira, cantam a vitória, dão o resultado das urnas como líquido e certo, já contam, como se diz em Dois Córregos, a minha terra, com o ovo na barriga da galinha — ou na entranha da serpente. Nas redes sociais, as agressões atingem altitudes inéditas. A violência retórica toma o lugar do pensamento; a desqualificação do outro vira o principal argumento.
Numa disputa tão acirrada, a despeito do que digam os institutos de pesquisa, é cedo para comemorar. O primeiro turno nos ensinou, já lembrei aqui, que uma eleição só acaba quando termina, com diria Chacrinha.
O que eu lamento — e isto nada tem a ver com as minhas escolhas pessoais — é que há, sim, uma grande chance de essa eleição ser decidida pelo discurso terrorista, pelo medo, pela mentira, pela maledicência, pela má-fé.
Todos os votos são legítimos. Não existe uma consciência ideal que faça escolhas ideais. Mas é preciso repudiar a mentira, venha de onde vier; repudiar a desinformação, pouco importa a sua origem.
O Bolsa Família vai continuar; não depende da vontade do futuro presidente da República. A política de valorização do salário mínimo será mantida, não importa o nome do mandatário nos próximos quatro anos. É mentira que o governo de São Paulo tenha omitido informações sobre a crise hídrica ou que mantenha um racionamento informal.
Pior: busca-se decidir uma eleição desqualificando pessoalmente um adversário. Ignora-se de modo deliberado o que pensa para dar relevo à fofoca, à baixaria, às acusações mais sórdidas.
Governar, acreditem, pode ser mais difícil do que vencer a eleição. Qualquer que seja o presidente da República, começará o mandato em 1º de janeiro sabendo que praticamente a metade dos que compareceram às urnas escolheu outro nome. Mais: dadas as abstenções, brancos e nulos, o próximo titular da Presidência lá terá chegado com o voto da minoria, não da maioria. Assumirá legitimamente o posto, mas isso não muda o fato de que a maioria fez escolhas diversas.
A violência retórica que tomou conta da campanha, com sua indústria de mentiras, desqualificações e difamações, tornará muito difícil o trabalho do mandatário. Infelizmente, há forças políticas no Brasil — e é claro que me refiro especialmente ao PT — que ainda não aprenderam que é a existência de uma oposição ativa que justifica e legitima um governo.
Não tem jeito: os petistas acreditam que só um resultado é legítimo nas urnas: o que lhe dá a vitória. Os companheiros aceitam o pressuposto democrático, desde que vençam. Essa concepção de política já chegou ao colapso. Caso se sagre vitoriosa ainda desta vez, será por muito pouco. E será em razão do terror. Caso o PT realmente vença, terá quatro anos turbulentos pela frente. Se é que vai conseguir, nessa hipótese, chegar ao fim do mandato.
Por Reinaldo Azevedo
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