Jab, direto, cruzado de esquerda e direto. Essa é, talvez, a combinação mais básica de golpes que um pugilista pode repetir dentro de um ringue. No entanto, se existe uma coisa que não é básica no boxe são os homens e as mulheres que mostram a grandeza do esporte. Animado por estar prestes a disputar sua primeira Olimpíada, o baiano Wanderley ‘Holyfield’ Pereira é mais um boxeador com vontade de fazer história, como acusa o apelido.
“As expectativas são as melhores, estou completamente animado. Acredito que tenho potencial e chances reais de conseguir estar entre os melhores e até sair como campeão. Independente das competições que eu dispute, a expectativa nunca é diferente”, diz o atleta, que estreia hoje, a partir das 15h30, contra Cedrick Belony-Duliepre, do Haiti.
Natural de Conceição do Almeida, cidade que fica a 160 km de distância de Salvador, o pugilista é uma dessas pessoas que sai do interior, mas o interior não o deixa escapar. Assim como o ditado diz que o “bom filho à casa torna”, Wanderley faz questão de voltar à sua casa em qualquer oportunidade que surja, seja nas férias ou quando há alguma “folguinha”. Lá, estão amigos, família e o início de seu sonho como boxeador.
Quando tinha entre 15 e 16 anos – o que o próprio boxeador não consegue afirmar -, um projeto social liderado pelo professor Marcos Silva ajudaria o atleta a começar sua jornada.
“Sempre gostei de artes marciais e ficava assistindo o pessoal treinar boxe. Aí teve um dia que eu consegui convencer minha mãe a me deixar treinar, e foi quando começou. Eu já gostava de esportes de combate, mas só descobri que era isso que eu queria quando tive a oportunidade de ir para São Paulo treinar com o Vanderlei Salles, onde eu comecei a me desenvolver”, explica. Os treinos no Sudeste, além de melhorar o boxe de Wanderley, o permitiram ser convocado para a Seleção Brasileira.
Entre as conquistas do pugilista dentro dos ringues, está o ouro nos Jogos Sul-Americanos de 2022, no Paraguai, na categoria meio-pesado. Já no Campeonato Mundial de Boxe e nos Jogos Pan-Americano, ambos de 2023, o baiano terminou com medalhas de prata. Com o desempenho no último torneio, ele se classificou para Paris-2024.
A preparação para a primeira Olimpíada passou por uma exaustiva jornada de treinamentos para que o atleta chegasse na França em sua melhor condição. Dois períodos por dia, de segunda a sábado, e “uma corridinha por fora” no domingo.
Com a rotina pesada, o baiano – entre uma risada e outra – admitiu que o que mais ama fazer no mundo é não fazer nada. “Ficar sem preocupação” é o que Wanderley mais preza em seus momentos de lazer. Mas, se a preocupação tomar a cabeça do boxeador, um remédio certo para curar a sua enxaqueca é a família – citada recorrentemente por Wanderley, seja ao falar sobre a relação com os parentes ou ao relembrar os momentos da infância, quando jogava bola no fim da tarde em um campinho perto de sua casa.
Entre as relações mais fortes, está o vínculo com o seu irmão Cristiano Pereira. A união de ambos ultrapassa os limites do sangue e alcança um novo patamar pela influência do esporte. Seguindo no ritmo de Pantera Negra, seu filme favorito, Wanderley e Cristiano podem não ser nenhum T’Challa ou Shuri, mas se apoiam de igual maneira aos personagens da ficção. Ambos começaram no boxe juntos e seguem até hoje na batalha pelo reconhecimento e desenvolvimento no esporte. “Eu sou por ele e ele é por mim”.