Os tiroteios registrados na localidade de Vila Verde, em Salvador, são resultado de uma investida da facção do Bonde do Maluco (BDM), que envia homens armados para atacar traficantes do Comando Vermelho (CV) no local. Na quarta-feira (8), após mais um confronto na madrugada, os ônibus pararam de circular na Vila. A repetição dos ataques tem um motivo: a localidade é a única com domínio do CV, sendo cercada por bairros como Mussurunga e Parque São Cristóvão, onde o BDM tem atuação histórica.
Uma fonte da polícia, com experiência no patrulhamento da área e que prefere não se identificar, destaca que o BDM quer acabar com qualquer presença do CV na região. “Essa área, diferente de outras em Salvador, quase não tem localidades dominadas pelo Comando Vermelho. O Bonde do Maluco está em Mussurunga, Parque São Cristóvão e outros bairros por aqui. Por isso, querem terminar com a existência dos seus rivais aqui”, aponta o policial.
O movimento de ataque do BDM parece ter se acirrado em 2024. De acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência armada em Salvador e Região Metropolitana (RMS), seis mortes e quatro tiroteios foram registrados na Vila ao longo de todo o ano de 2023. Neste ano, de 1º de janeiro até 7 de maio, o instituto já contabilizou oito tiroteios, cinco mortos e dois feridos.
Duas das vítimas fatais foram registradas há pouco mais de duas semanas. Elas foram identificadas como Gabriel Santana da Hora Santos, 16 anos, e Walace Cerqueira dos Santos, que não teve a idade informada. A reportagem apurou que Gabriel foi morto com vários tiros na cabeça em uma casa na Rua do Campo.
Já o corpo de Walace foi encontrado em uma praça na Rua Planalto Verde. Não há informações sobre uma possível relação entre as mortes. Na época, um policial afirmou que a morte de Gabriel teria sido decretada pelo CV por ter um familiar que passava informações para o BDM.
“A gente acredita que as mortes tenham sido causadas pelo conflito entre as facções. Recebemos a informação de que uma das vítimas [Gabriel] não costumava sair de casa e não tinha envolvimento com o crime organizado. No entanto, a tia dele seria uma informante de uma facção rival e, possivelmente, ele foi morto por esse motivo. Quando chegamos no local, averiguamos que ele não tinha tatuagens ou algo que faça referência aos grupos faccionados”, afirma o policial. A informação dada pelo policial não foi confirmada oficialmente pela PM.
Outra amostra da presença dos grupos criminosos, que estão fortemente armados por toda Salvador, é a apreensão de fuzil 556 pela polícia após agentes localizarem homens armados na Vila. O armamento foi apreendido nas buscas da polícia depois do confronto com os criminosos.