Quando o verão chega fica difícil de caminhar pelas ruas do Pelourinho, em Salvador, devido a multidão. As ruas e casarões do tempo colonial são o principal cartão postal da cidade e atraem turistas do Brasil e de outras partes mundo, mas moradores e trabalhadores do Centro Histórico estão com medo de que a criminalidade aumente na mesma proporção. No último verão, a polícia precisou intensificar as ações depois de uma onda de assaltos e agressões na região.
A situação ficou tão crítica que a Prefeitura resolveu criar um distrito específico para o Centro Histórico, mudou a sede da Guarda Municipal para o bairro e anunciou 100 agentes a mais para reforçar a segurança. Nesta terça-feira (28), uma promotora de vendas que mora há 20 anos no bairro, e que pediu para não ser identificada, contou que a chegada da estação mais quente do ano é motivo de alegria e de incerteza ao mesmo tempo.
“A gente fica feliz porque com o aumento do movimento teremos mais clientes, o faturamento aumenta, mas por outro lado cresce também a ação dos bandidos. De crime, o que a gente mais vê é furto e assalto. A maioria [dos criminosos] é usuária de drogas, são pessoas que roubam para poder trocar por uma pedra e crack ou algo pior”, afirmou.
Ela contou que alerta os clientes sobre ter cuidado com aparelhos, como celular e câmeras fotográficas, e evitar transitar em ruas pouco movimentadas. O presidente da Associação do Centro Histórico Empreendedor (Ache), José Yglesias Garcia, contou que a maioria das ocorrências praticadas contra os lojistas está relacionada a furtos.
“A situação da segurança pública melhorou bastante, mas o Centro Histórico tem uma questão muito particular. São raros os crimes de homicídio ou a mão armada, como acontece em outras regiões da cidade, o mais comum são furtos de correntes de ouro e de celulares. Muitos são menores de idade, que estão amparados pela legislação, e tem os dependentes químicos que também é um problema”, afirmou.
Para os comerciantes outra dor de cabeça são os furtos de cabos para retirada do cobre. No ano passado, o CORREIO fez uma matéria sobre os impactos desse crime, nem mesmo equipamentos públicos, como o Cine Glauber Rocha e a Câmara Municipal, foram poupados. Para o casal de turistas André e Amanda Bianchi, naturais de São Paulo, os problemas do Centro Histórico de Salvador são os mesmos de toda cidade grande.
“Vimos alguns dependentes químicos quando chegamos e fomos abordados por pedintes. Isso é muito comum em outras cidades, infelizmente é uma realidade em todo o Brasil, mas esperamos que o poder público não naturalize essas questões. O Pelourinho é tão lindo e tão rico culturalmente, então, precisa ser preservado e cuidado”, disse Amanda.
Operação verão
Nesta terça-feira, o Governo do Estado fez dois eventos para marcar o lançamento da Operação Verão, período de novembro a março em que a polícia intensifica as ações, principalmente nas áreas turísticas do estado. O governador Jerônimo Rodrigues (PT) contou que cerca de seis mil policiais militares, civis e técnicos, além de bombeiros, realizarão ações preventivas, ostensivas, de investigação e resgate.
“Em momento algum, nos últimos meses, nós paramos de fazer operação. Polícia Militar e Polícia Civil em parceria com a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária estão fazendo apreensão de drogas, de armas e de criminosos. Só na Operação de Verão deste ano o investimento será cerca de R$ 27 milhões, com entrega de viatura para Salvador e para o interior, além do reforço no policiamento e novos equipamentos”, afirmou.
O lançamento da operação foi realizado no Farol da Barra e no Terreiro de Jesus, ambos com a entrega de viaturas. Haverá, neste período, um incremento mensal de 4.500 policiais militares, em esquema de plantões extras para aqueles que estão de folga, que totaliza investimento de cerca de R$ 2,7 milhões.
Cerca de R$ 22 milhões foram investidos em 125 viaturas (carros, motos e bases móveis) e quatro botes rígidos de salvamento. O secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner, contou que o investimento na Operação Verão foi maior que a do ano passado.
“É um esforço grande de investimento para que a gente possa fazer uma grande operação. A expectativa é muito grande de recorde de público nas festas de largo e no Carnaval, estamos com um percentual na rede hoteleira maior que os últimos dois anos, então, a gente precisava usar as ferramentas para proporcionar mais segurança aos turistas, sejam eles baianos e brasileiros, seja eles estrangeiros”, afirmou.
Ele contou que o atendimento virtual da Polícia Civil vai operar em inglês e espanhol para atender os turistas. O contato é o WhatsApp (71) 99973-7729. A Delegacia de Proteção ao Turista da Polícia Civil e o Batalhão Especializado de Polícia Turística da PM já possuem profissionais que falam diversos idiomas.
Estrutura
As viaturas de duas e quatro rodas serão empregadas nos pontos turísticos, no patrulhamento em regiões com hotéis e pousadas, nas principais vias e também no entorno dos grandes eventos. Já as embarcações ajudarão na fiscalização preventiva nas praias, em regiões com rios e também lagos.
Já o Sistema de Reconhecimento Facial estará presente nos principais pontos turísticos dos municípios. Câmeras fixas e móveis serão empregadas para auxiliar na localização de pessoas com mandado de prisão expedido pelo poder judiciário.
Em 2023, o RF ajudou na captura de 617 pessoas. Cerca de 80% delas eram procuradas por homicídio, tráfico de drogas, estupro e roubo. Desde a sua implantação, em dezembro de 2018, a tecnologia da SSP localizou 1192 foragidos da Justiça.
As força estaduais realizarão ações especiais na Baía de Todos os Santos, nas Costas do Dendê, dos Coqueiros, das Palmeiras, do Cacau, do Descobrimento e das Baleias, além da Chapada Diamantina, nos Lagos do São Francisco (Norte) e Caminhos do Oeste, entre outros sítios turísticos.
Informações Correio