Dos cinco candidatos à sucessão estadual, pelo menos um tem mais motivos do que os demais para se preocupar com os dias que se seguirão à data da eleição. Com sua estagnação nas pesquisas, João Roma, do PL, apesar de representante oficial do bolsonarismo no Estado, precisa fazer um cálculo preciso sobre quais serão seus passos no mundo político baiano depois de 2 de outubro. Pernambucano de origem, ele era, como se diz no cotidiano, um “João ninguém” na Bahia até ser convidado para a chefia de gabinete do então prefeito ACM Neto (União Brasil), favorito para ganhar o pleito de outubro, segundo as pesquisas.
Sua trajetória na estrutura do então PFL nacional jovem, da qual pulou para a condição de auxiliar prestimoso, primeiro do carlismo e, em seguida, do próprio Neto, de quem foi assessor parlamentar em Brasília, exercendo sempre suas atividades com zelo e dedicação desmesurados, segundo testemunhas, o credenciou para que ocupasse uma função da máxima confiança do então gestor na Prefeitura de Salvador. Daí para convencer Neto a apoiar sua candidatura a deputado federal em 2018, um sonho antigo de autonomização política que tentara sem sucesso realizar antes concorrendo por um Estado do Norte de baixíssimo coeficiente eleitoral, foi um pulo.
A lealdade a quem lhe deu régua e compasso na Bahia, no entanto, durou pouco ou muito, a depender da perspectiva, fazendo com que Roma rompesse os laços que pareciam atá-lo indelevelmente ao então aliado quando, três anos depois, aceitou o convite do presidente Jair Bolsonaro (PL) para se transformar em seu ministro da Cidadania. Não bastasse o salto, viraria um dos adversários mais duros do ex-aliado, como conversas, sucessivas entrevistas, discursos e a propaganda eleitoral vêm mostrando. Mas se são baixíssimas as chances de vitória de Roma, por que ele não suspende agora as armas contra Neto preparando um eventual realinhamento?
Primeiro, porque, dado o nível da traição a quem sempre lhe deu a mão, a ponte entre os dois, tanto do ponto de vista pessoal quanto político, foi severamente abalada. Segundo, porque, também pelo nível do golpe que aplicou no ex-correligionário, assumindo, complementarmente, o papel de verdadeiro opositor ao seu maior projeto eleitoral na Bahia, o candidato do PL não deixou espaço para uma recomposição. Sob esta perspectiva, restaria a Roma, portanto, seguir contrito, eleição a dentro, regozijando-se apenas de uma duvidosa missão cumprida em favor de Bolsonaro na Bahia? Provável que não.
Pressionado pelo cenário nacional, em que as perspectivas para o presidente estreitam-se, e o local, onde, demonstrando resiliência ímpar, Neto segue como líder para a disputa daqui a 12 dias, ele estaria, segundo especula-se, implementando um projeto pessoal para tentar sobreviver politicamente na Bahia: fazer um acordo com o PT, via o senador Jaques Wagner, para o caso de derrota de Bolsonaro lá e vitória do candidato do União Brasil aqui. A prova sobre se a aliança é real será possível tirar no debate da TV Bahia, dia 27. Roma vai aliar-se a Neto para enfrentar o PT, inimigo número um do bolsonarismo, ou auxiliar o PT no combate a Neto?
*Artigo do jornalista Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.