Quem circula pelas vias principais de Valéria percebe que, diante do problema de insegurança no bairro, a presença da polícia vem garantindo o funcionamento do transporte público, comércio e unidades de saúde nestes locais. Mas basta adentrar a Rua Penacho Verde, um dos principais pontos de disputa entre o Bonde do Maluco (BDM) e a Katiara, que o cenário é outro. Por conta dos tiroteios, as pessoas passaram a sair menos de casa e consequentemente o comércio teve prejuízo.
Segundo moradores, pelo menos 15 estabelecimentos comerciais fecharam as portas durante um ano. “E não foi por conta da pandemia, porque mesmo com a covid, a gente sabe que na periferia tudo funciona normalmente. Só que aqui foi diferente. Havia padarias, mercadinhos, bares, mas a maioria fechou por causa dos confrontos. Para se ter uma ideia, eram nove mercadinhos. Hoje só temos dois”, declarou um morador na manhã deste sábado (25), quando o Batalhão de Operações Especiais Policiais (Bope) reforçou a ocupação da Polícia Militar em Valéria.
De acordo com ele, seis pessoas já foram baleadas nesse período. “Alguns tinham envolvimento. Outros não. Mas tudo aconteceu em horário comercial. Então, as pessoas deixaram de sair. Com o medo de bala perdida, o comércio caiu mais de 70%. Sem clientela, os comerciantes não tinham como pagar o aluguel dos pontos, fornecedores e funcionários e deixaram o bairro” , contou.
A reportagem tentou falar com donos de estabelecimentos em funcionamento, mas eles preferiram não comentar a situação. No entanto, o dono de um lava jato aceitou conversar na condição de anonimato. “Estava no interior por conta da pandemia e retornei há um mês, mas desde então não abri o lava jato, porque não me sentia seguro. Hoje, com o Bope aí, vou botar para funcionar à tarde. Mas, em qualquer situação diferente, fecho e não abro mais”, declarou.
Um outro morador relatou que igrejas também fecharam as portas. “Eram umas cinco igrejas. Todas não estão funcionando. Eles quando estão em fuga procuram se esconder na primeira porta aberta, neste caso, as igrejas. Os fiéis passaram a não mais frequentar e os pastores não tiveram outra alternativa a não ser interromper os cultos “, disse.
Reforço na ocupação
O policiamento no bairro de Valéria foi reforçado ainda mais com a presença do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) a partir deste sábado (25), um dia depois de um policial militar ser baleado nos dedos com um tiro de fuzil. O local já está sob ocupação da Polícia Militar desde 18 de agosto.
Ontem, um grupo de cerca de 15 homens atacou um grupo rival na localidade da Penacho Verde. A Polícia Militar foi chamada e foi até a região. Houve dois confrontos com troca de tiros. No primeiro, um PM foi atingido com tiro de fuzil que passou pelos dedos dele. Hospitalizado, ele não corre risco de morte, mas passou por 6h de cirurgia para recompor os dedos.
No segundo confronto, um suspeito foi baleado e morreu. Ele não foi identificado e não se sabe se ele foi o responsável por atirar contra o PM baleado.
“Tendo em vista que homens armados adentraram uma área de mata, fomos acionados e fizemos a primeira incursão. Teve o primeiro confronto, onde o nosso policial foi baleado. Eram entre 15 a 20 bandidos armados. Foi um tiro de fuzil que atingiu os dedos do policial. Mas ele passa bem. Então, intensificamos o patrulhamento na área e encontramos um outro elemento e houve um novo confronto e ele veio a óbito”, conta o major Cledson Souza, comandante do Bope.
Um fuzil foi apreendido no local. “É um fuzil de guerra. Ou seja, uma arma com alto poder de letalidade. Foi justamente essa arma que foi usada para balear o policial”, acrescenta o major. Ele explica que facções estão em conflito na região. “Existe confronto entre lideranças. Uma determinada facção quer tomar o espaço da outra”.
O major explica porque a presença do Bope é necessária e que os bandidos podem estar escondidos na região. “É uma área de difícil acesso, de mata fechada. Não é qualquer unidade que consegue adentrar. Somos treinados para isso. Estamos fazendo uma varredura e pedimos que eles não reajam. Mas se houver confronto, vamos usar a força”, garante.
Essa não é a primeira vez que a PM ocupa Valéria. Para o major Cledson, isso se explica porque o local é um ponto estratégico. “Como já disse, o local é um terreno de difícil acesso. Além da mata, tem pedreiras, curvas de nível e é difícil para quem não conhece. Sem falar nas rotas de fuga. Tem acesso para a BR, Cajazeiras, Subúrbio…”, elenca.
📝 Bruno Cardoso