Fundado em 2001, mas já carregando uma história vencedora no futebol feminino ao conquistar o Campeonato Baiano por 15 vezes consecutivas, o São Francisco do Conde vive um ambiente hostil, escancarado após o rebaixamento para a Série A2 do Campeonato Brasileiro. O Conselho Deliberativo, presidido por André Luiz Bahia dos Santos, agendou uma reunião extraordinária para a próxima segunda-feira (21). O motivo? Apuração de denúncia de irregularidades na gestão de Donato Conceição, atual mandatário da agremiação. Entre elas, cheque sem fundo e empréstimo sem aval do colegiado.
“Foi convocada uma reunião pelos Conselhos Deliberativo e Fiscal com o Conselho Diretor, no caso o presidente [Donato Conceição], devido algumas atitudes que ele vem tomando, que é a situação de tomar dinheiro emprestado sem autorização dos Conselhos Deliberativo e Fiscal, e sobre a situação do cheque… Resolvemos convocar essa reunião”, disse o supervisor do clube, Anailton Gomes.
Foto: Reprodução
O cheque foi referente ao pagamento da taxa de arbitragem do jogo entre São Francisco e Sport em 2018. A surpresa veio ao ser descontado, mas o caso já foi solucionado. “Ficou faltando uma quantia. O presidente disse que ia pagar, entregou o cheque, mas na hora de passar estava sem fundo. O Conselho Deliberativo quer saber da situação”, falou Anailson. “Acho que a quantia foi paga, mas só foi depois que bateu o cheque”, completou.
Ao ser procurado pelo Bahia Notícias, Donato Conceição, presidente do São Francisco, demonstrou irritação e fez acusações sérias contra membros da agremiação. O cartola disse que uma atleta do clube sofreu uma tentativa de estupro em um elevador, mas admitiu que “abafaram” o crime “para não levar à tona” o caso.
Ele ainda acusou André Luiz Bahia, mandatário do Conselho, de praticar agiotagem dentro do clube. “As coisas que eles fizeram são pessoais contra mim. O diretor de futebol, que deixei o clube na mão dele, é o primeiro a querer denegrir (sic) minha imagem. O supervisor Anailson Gomes, ele viajava e levava a esposa para a concentração, ficou no hotel, tudo pago pelo clube. Viajava para os jogos, pegava mulher, tudo pago pelo clube. Isso ele não fala. […] O diretor de comunicação só viajava e não fazia nada pelo clube. O diretor social, até hoje não fez um sócio. A dor deles foi essa aí. O presidente do Conselho Deliberativo estava emprestando dinheiro a juros ao clube, mas já foi pago. Tenho tudo para comprovar. O cheque que passei para a federação, com três dias depois fui e paguei. Prestação de contas de 2018, está na minha mão. A de 2019 ainda não posso prestar, só no fim do ano. Eu vou dar queixa deles. Tenho tudo em mãos”, disparou.
Sobre o cheque, Donato Conceição confirmou que não tinha fundos. Porém, em relação aos empréstimos, o dirigente se defendeu dizendo que não fez nada de irregular. “Foi o cheque sem fundo que eu dei. Vou dar queixa neles. Tenho tudo em mãos. Tenho estatuto, e ele não fala em lugar nenhum que sou proibido de tomar empréstimo para usar no clube, e já foi pago. Será que o presidente do Conselho Deliberativo pode tomar dinheiro a juros?”, comentou.
O técnico Carlos Alberto reforçou o discurso do presidente do clube. De acordo com o treinador, ele identificou que o time precisava de reforços no início do Brasileiro Feminino A1, mas o supervisor rechaçou a possibilidade de novas contratações.
“Fui contratado e fiz o planejamento para o Campeonato Brasileiro. Esse time já era para ter caído há dois anos por falta de organização. Identifiquei na segunda rodada que necessitávamos de algumas atletas. Fizemos reunião e me falaram assim: ‘Vai cair com esse aí, mas eu não contrato mais ninguém’. O clube todo era na mão do supervisor. Ele contrata jogadoras por contratar e depois o débito é do clube”, explicou.
“Toda a autonomia era do supervisor. Ele levou a esposa para passar um final de semana. Ele gastava muito. Era muita irresponsabilidade. O supervisor só comprava as coisas na mão do irmão. Hoje não fazemos mais isso. Compramos em outras empresas. O dinheiro que chegava da CBF ficava na mão dele, ele que fazia tudo”, completou.
O treinador ainda revelou que recebeu autonomia dos principais investidores do clube para reformular a comissão técnica, e isso acabou gerando a convocação da reunião extraordinária. Ele ainda revelou que o supervisor do clube vinha praticando nepotismo: “Sabe por que marcaram essa reunião? O supervisor contratou um fisioterapeuta que é o irmão dele. Um roupeiro era amigo de infância e vizinho, mas não prestavam serviços para o clube. Quando o prefeito pediu para que eu montasse minha comissão, tirei todos eles. Vou ter um fisioterapeuta que atendia a menina no hotel sem camisa e sem cueca? Não é um profissional. Vou colocar uma pessoa que trabalha com mulheres querendo transar com elas? Então tirei. Eles não estão nem aí para o clube, só queriam que eu saísse do clube, porém, eu sou a pessoa de confiança de quem coloca o dinheiro. Usava isso aqui como nepotismo. No momento que eu mexi com isso, eles marcaram essa reunião”.
Neste ano, o São Francisco fez uma campanha pífia no Campeonato Brasileiro A1, sendo rebaixado ao terminar na 15ª colocação com seis pontos. Em 15 jogos disputados, o time baiano colecionou 11 derrotas, empatou três e venceu apenas um. A equipe teve a segunda pior defesa da competição com 52 gols sofridos e o ataque também foi o segundo pior ao marcar somente nove tentos.
Atualmente, o São Francisco disputa o Campeonato Baiano. A equipe ainda não pontuou e aparece em segundo lugar do Grupo 2. O time encara Salinas da Margarida, neste sábado (19), às 15h, dentro de casa.
Por Glauber Guerra / Ulisses Gama / Gabriel Rios / Leandro Aragão
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