Chega ao fim Velho Chico, uma das novelas mais esteticamente inspiradas da história da Globo. A fotografia, a direção de arte e a edição a transformaram num feito cinematográfico.
A trama teve altos e baixos, com necessárias correções de rota ao longo dos 172 capítulos. Dois dos principais equívocos: o descompasso entre o Afrânio da primeira fase, interpretado por Rodrigo Santoro, e o da segunda, vivido por Antônio Fagundes; e a demora no desenrolar do romance principal, entre Tereza (Camila Pitanga) e Santo (Domingos Montagner).
Mas os acertos foram maiores do que os problemas:
Elenco uniforme: não houve um único desnível de interpretação. Todos os atores, dos protagonistas aos coadjuvantes, ofereceram ao telespectador atuações consistentes – com alguns momentos magistrais. Atores essencialmente de teatro, como Lee Taylor (Martim) e Mariene de Castro (Dalva), fizeram ótima estreia na tela. Destaque também para as performances de Zezita Matos (Piedade), Lucy Alves (Luzia), Selma Egrei (Encarnação), Irandhir Santos (Bento), Lucas Veloso (Lucas) e Luci Pereira (Ceci).
Ambientação: acompanhar os cenários deslumbrantes às margens do Rio São Francisco refrescou a visão de quem estava cansado de folhetins urbanos no eixo Rio-São Paulo. A Globo não produzia uma trama rural na faixa das 21h havia quase 15 anos. Está provado que o noveleiro das grandes cidades continua interessado em enredos ligados ao campo. A maioria dos telespectadores desconhecia a beleza, a cultura e a relevância dos recursos do Rio São Francisco.
Mensagem ecológica: a discussão da agricultura sustentável e comunitária deu visibilidade a um tema pouco explorado na teledramaturgia recente por, supostamente, não interessar ao público de TV. Ainda que não tenham gerado mobilização – como aconteceu com o merchandising social de outros folhetins –, os diálogos dos empreendedores rurais de Velho Chico serviram para iniciar a conscientização de milhões de pessoas que nunca tinham ouvido falar do assunto.
Superação: a perda do protagonista Domingos Montagner na reta final da trama recebeu uma solução dramatúrgica digna e poética. A câmera subjetiva fazendo as vezes do olhar de Santo (operada pelo cinegrafista Leandro Pagliaro), supriu, na medida do possível, a ausência do personagem, e serviu como bela homenagem ao ator. Os autores Benedito Ruy Barbosa e Bruno Luperi e o diretor artístico Luiz Fernando Carvalho tiveram sensibilidade e criatividade para enfrentar o desdobramento da trágica morte de Montagner.
Juntos, Benedito e Carvalho já haviam realizado trabalhos memoráveis, como Renascer (1993) e O Rei do Gado (1996). Velho Chico passa a ocupar um lugar nessa galeria de novelas especiais. A média geral foi de 29 pontos, meio ponto a mais do que a antecessora, A Regra do Jogo. Fonte: Terra.
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