Em tempos de crise econômica, parece que a velha prática política do pão e circo está voltando com tudo em algumas cidades baianas — caso de Madre de Deus, administrada por Jeferson Andrade (PP), na Região Metropolitana de Salvador. Enquanto a população de quase 20 mil habitantes pena com o aumento da violência, o prefeito abre o bolso e gasta milhões na contratação de bandas e cantores para o evento Madre Verão, que acontece até 30 de janeiro.
Contatado pelo Jornal da Metrópole, o vereador Daltro (PT) estima que só na contratação de bandas, o prefeito gastou mais de R$ 1,2 milhão. Somado com os gastos com a estrutura para o evento, divulgação e equipamento de som, o valor total do Madre Verão chega a cerca de R$ 5 milhões. “No ano passado ele gastou R$ 7 milhões, com mais dias de evento. O prefeito prometeu que iria criar empregos em um polo industrial, gastou R$ 2 milhões, mexeu terra de um lado para o outro, e não resolveu nada, está tudo parado. Só neste mês, foram três assasinatos de jovens na cidade, e mais duas tentativas. O povo de Madre de Deus está com medo, sentindo-se refém”, afirmou.
Andrade assumiu a Prefeitura de Madre de Deus em 2013, quando a então prefeita Carmen Gandarela (PT) renunciou ao cargo para tratar problemas de saúde. Ele era vice-prefeito da petista.
Falta de água é recorrente
Além da violência, outro problema recorrente em Madre de Deus é a falta de água. Moradores e turistas vêm reclamando com a Prefeitura do problema, que se agrava no verão, mas não obtêm nenhum tipo de resposta do Executivo. Na época da campanha eleitoral, o agora prefeito Jeferson Andrade prometeu resolver a questão construindo uma adutora. Para isso, teria a ajuda do deputado federal Mário Negromonte Júnior (PP) — seu aliado de primeira hora — mas nada foi feito até hoje.
“Quando passamos um dia com água, ficamos três sem. O prefeito prometeu que no verão do ano passado não teríamos mais esse problema. Mas o problema continua. A gente tem que pegar água na casa dos vizinhos, dos parentes”, disse uma moradora que preferiu não se identificar.
Prefeitura identificou problema, mas nada fez para mudar, diz vereador
O vereador Daltro (PT) afirmou que a falta de água no município acontece porque Madre de Deus não tem uma adutora com pressão suficiente para fazer a distribuição em toda a cidade. “Havia um acerto entre a Embasa e o governo do estado para construir a adutora. Uma empresa chegou a ser contratada, mas não houve fiscalização do poder público local. Eles começaram a colocar a adutora, mas a Petrobras pediu que eles parassem, porque em alguns locais passavam tubulações da empresa. A Prefeitura não fez nada”, afirmou. Em tempo: os terminais da Petrobras geram grande parte dos recursos que fazem Madre funcionar.
Na prefeitura, trabalho só até às 14h
Procurada pelo Jornal da Metrópole na tarde da última quarta-feira (27), a assessoria de comunicação da Prefeitura de Madre de Deus afirmou que a coordenação do Madre Verão ficou por conta do secretário de Cultura e Turismo da cidade, Djalma Thürler, mas informou que ele só poderia falar com a reportagem na quinta-feira, pois o expediente na Prefeitura acaba às 14h. Trabalho bom é esse….
contratos atingem até R$ 500 mil cada
Segundo o Diário Oficial de Madre de Deus do dia 20 de janeiro, a Prefeitura firmou com a empresa PMKR a “contratação de atrações artísticas para apresentar-se na Área de Lazer, em comemoração ao Madre Verão 2016”, pagando a módica quantia de R$ 468 mil. Outros quatro contratos com a empresa LG Produções e Eventos foram assinados para prestação de serviços no Madre Verão, com os valores de R$ 277.300,00, R$ 265.900,00, R$ 27.250,00 e R$ 25.600,00.
Violência crescente em Madre
Segundo um ranking internacional publicado na segunda-feira (25) por uma organização não governamental mexicana, o Brasil é o país com o maior número de cidades entre as mais violentas do mundo em 2015. Das 50 cidades com maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes em 2015, 21 são brasileiras, entre elas Salvador e a Região Metropolitana (RMS), o que inclui a cidade de Madre de Deus. A capital baiana e sua RMS estão em 14º lugar na lista, divulgada anualmente pelo Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal.
O dia 15 de janeiro, por exemplo, foi sangrento em Madre de Deus. Pela manhã, um homem de 33 anos levou três tiros, disparados por dois homens armados, mas não morreu. Já pela tarde, uma mulher de 22 anos também foi baleada, desta vez no bairro de Quitéria. Pela noite, dois homens foram mortos.
(Conteúdo Jornal da Metrópole)
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