A descoberta pela Lava-Jato do uso de serviços gráficos da editora “Atitude” para mascarar propina ao PT pode arrastar, veja só, os fundos de pensão para dentro do escândalo do petrolão. ISTOÉ descobriu que Previ, Petros e Funcef usaram durante anos a fio os serviços de outra gráfica umbilicalmente ligada ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, a Bangraf. Ela foi contratada no início do governo Lula para imprimir os informativos das três maiores caixas de previdência pública do País. Estima-se que tenha embolsado mais de R$ 10 milhões com o negócio. Mais preocupante que a possível suspeita de contratação dirigida está o fato de que a mesma Bangraf foi usada pelo PT para imprimir material eleitoral para campanhas do PT. Ou seja, o dinheiro que pagou a propaganda política petista se misturou com os recursos dos fundos de pensão destinados a bancar a impressão dos boletins oficiais.
Como os esquemas do PT não param de surpreender, a Bangraf não tem CNPJ próprio. Ela usa o do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Na verdade, a Bangraf nunca existiu formalmente como pessoa jurídica, sendo apenas uma espécie de “departamento gráfico” do sindicato. Isso quer dizer que os fundos de pensão contrataram, não a Bangraf, mas o próprio Sindicato dos Bancários.
De 2004 a 2011, a Bangraf imprimiu 70 edições da Revista Previ, cuja tiragem informada oficialmente é superior a 150 mil. Já o Jornal da Petros, foram mais de 100 números produzidos pela Bangraf entre 2003 e 2012 com tiragem média de 140 mil exemplares. No caso da Revista Funcef, ao todo foram produzidos 74 números desde 2004, com 120 mil exemplares de tiragem média. O contrato entre o fundo de pensão dos servidores da Caixa com o Sindicato dos Bancários está ativo até hoje, sendo renovado seguidamente. Segundo a Funcef, “em função da apresentação de menores preços”. A Previ informou que contratou a Bangraf por processo de “tomada de preços com empresas de mercado reconhecidas, tendo vencido por apresentar capacidade técnica e menor preço”.
Contas eleitorais
Levantamento da ISTOÉ nas contas da campanha do ano passado revela que a Bangraf, ou melhor, o Sindicato dos Bancários embolsou R$ 2,8 milhões com a impressão de propaganda política, majoritariamente para os diretórios paulistas do PT e do Solidariedade (SD). Dentre os candidatos que tiveram santinhos impressos pela Bangraf está o deputado estadual Luiz Claudio Marcolino, que fracassou na disputa por uma vaga na Câmara Federal. Em sua campanha, Marcolino recebeu gordas doações das empreiteiras enroladas na Lava-Jato. O sindicalista já dirigiu a Editora Gráfica Atitude, apontada pela força-tarefa como destino de propina do petrolão. Outro petista que usou os serviços da Bangraf foi Mario Reali, ex-prefeito de Diadema. Ele também não foi eleito e hoje trabalha como assessor especial da Prefeitura de São Paulo. No Solidariedade, a Bangraf imprimiu propaganda política do deputado eleito Paulinho da Força.
Em 2012, a Bangraf embolsou na campanha R$ 1,45 milhão em serviços prestados aos diretórios do PT de São Paulo, Diadema e Embu das Artes. O Diretório do PDT também imprimiu vasta propaganda política. Na época, Paulinho da Força ainda era do PDT e concorreu a Prefeitura. Em 2010, a Bangraf obteve mais R$ 2,7 milhões em serviços para as campanhas de Paulinho e de candidatos petistas, como Ricardo Berzoini, oriundo do Sindicato dos Bancários e hoje ministro das Comunicações; José Di Filippi, hoje secretário de Saúde do prefeito Fernando Haddad; além do deputado federal Ricardo Zarattini. Em 2006, a Bangraf trabalhou apenas para o PT. Ao todo, consumiu R$ 2 milhões em propaganda eleitoral para a campanha de reeleição de Lula à Presidência. A gráfica do Sindicato dos Bancários também imprimiu propaganda de Antonio Palocci, Vicentinho e Berzoini.
Bancoop
No inquérito que investiga desvios da Bancoop, o laranja Helio Malheiro contou que João Vaccari Neto, quando dirigia a Bangraf, pressionou seu irmão Luis Eduardo Malheiro, então presidente da cooperativa, a “emprestar dinheiro da Bancoop para a Bangraf”. Segundo Helio, o empréstimo depois foi pago, embora não saiba dizer como. Na CPI da Bancoop, a ex-diretora Ana Maria Ernica disse que a gráfica era “um departamento do sindicato” e prestava serviços regularmente para a cooperativa, imprimindo boletos de mensalidade, além de informativos e a revista da Bancoop. A Bangraf também imprime informativos da CUT, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, da ONG Travessia e do Banesprev, o fundo de pensão dos servidores do Banespa, adquirido pelo Santander. Fonte: Época.
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